domingo, 28 de dezembro de 2014

Prófugo



Aquele beijo agora é lágrima da saudade
Corpo à deriva
Sem mar pra navegar

Naufrágio do amor

E as marés pelas manhãs... sem noticias do além-mar

Devagar sem pressa
O tempo e o vento torto
Cartas escritas, versos ao mar
Palavras caminham mudas

Açoito-me em quatro atos:

1° ato

Toda condescendência da lua que míngua

_Ó lua, banha-me com tua brancura!
_Desata-me dos nós das amarraduras
_Conceda-me a sabedoria do recolhimento

2° ato

Sobre a clausura do recolhimento

Suplício do silencio
Monastério da alma
“A terceira margem do rio”
Remanso...
Sigo errante pelo efêmero

3° ato

A lua que se preenche

_Te tornaste ainda mais bela, ó lua!
_Tão bela como a flor que tu me deste
_Teu iluminamento faz-me oração e prece


4° ato

A poesia e o poeta, a verdade e a voz da alma

De todas as verdades, a mais sincera habita no âmago da alma. Às vezes ela surge pela janela dos olhos. 
A poesia é a pele do poeta, mas é a pele de dentro.

Didiu 2014 
 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

adentro



completando o avião, sobrevoando o voo...
paraquedas, perigo no espaço
esperando o verso passar.

Noite... pouso

Agigantando silêncios curtos

Já tive medo da chuva, hoje a vejo passar com miragens nos olhos
... e os pés desnudos descampando sonhos, expropriando afins, ultrapassando fronteiras demarcadas.
Deito-me no conforto das minhas palavras que  dançam, descansam. Elas flutuam, adormecem e amanhecem em meu corpo que levita e pela leveza dos céus alcança. Reivindica

Completando os espaços, alinhavando retalhos bordados com espelhos para guardarem a extensão.

Dia... aprumar

... apequenando 

Didiu 2014
 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

nostalgie - Bia e Antonio



Outrora aurora, amora que permanece

Bendito fruto

E aquele beijo entrelaçado ali

Sentenças orações e crenças

Sabores intermináveis e as horas passando pela janela do quarto vazio

O olhar adocicado de Bia transitava pela casa devorando retratos: imagens, cenas, momentos, risos, fotografias desbotadas e algumas miragens

Seu pensamento remetendo-se as lembranças de sua infância com suas fantasias, sonhos... medos. Sua boneca costurada na velha máquina de costura da avó, na qual também já serviu de nave espacial, ou, um antigo calhambeque com asas de avião preparado com tábuas de passar roupas. Criatividade e divertimento nunca faltou para Bia na sua meninice. Levada da breca vivia dependurada em pés de manga e goiabeiras, sonhava com uma casa na arvore para lá poder se refugiar com sua boneca e seus livros prediletos de contos e fábulas e se sentir  a narizinho do Sitio do Pica-pau Amarelo.

Bia sorria com lágrimas nos olhos, seus olhos eram negros e sempre brilhavam, brilhavam tanto que pareciam enormes faróis.Faróis que guiam navegadores perdidos à deriva na busca de uma terra à vista, de um cais de qualquer porto seguro.

Recapitulação nostálgica, sedução... memorias fotográficas alongando-se pelos cantos dos cômodos da casa... pelos corredores, espelhos, pelas cores, nas paginas dos livros ainda não lidos, na música – trilha sonora. Sonolento  tempo que passava veloz anunciando a renuncia da lágrima, o desejo da permanecia, a saudade, sua historia, seus contos,  lembranças da presença da pele, do beijo de Antonio.





Antonio preparava ansiosamente suas malas e sua volta. 

Didiu 2014 

domingo, 14 de dezembro de 2014

sobre a chuva que caía



Chuva
Uva
Vinho

Versos incertos
Dos versos, certeza
Na superfície das horas, cores azuis
Emudecido corpo, silencio do riso
Ausência do beijo, as gotas do tempo
A brisa lenta fria
Vontades verdades (in)solúveis

Abrigo abreviado desfazendo embaraços, nas entrelinhas dita na estrofe, na oração manuscrita numa folha de papel recortada pela mão suja de tinta.

Olhos se desvencilhavam do sono que insistia e por teimosia vencera.

Chuva
Sono
Sonho



Fazia música além da chuva... fazia muito bem aos ouvidos.


Didiu  2014