quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Abril



Eros permitiu
E sob teu consentimento fez-se... quão mágica brisa suave tateando a flor da pele
O poema, o beijo, a música bela que fazia incitar cadenciando o verso
O íntimo dos olhos, a amada alma, o âmago
A presença, o presente, o pedido atendido

Eros permitiu

Escreveu num sonho a lembrança
Páginas e páginas, nas folhas de outono, no ritmo da chuva fina fria
Não fez pra doer, nem quis rasgar, despedaçar pétalas, seu querer se fez maior, entretanto, a lágrima caiu moldando o sereno, o pranto. As luzes se foram, ofuscaram-se com o tempo no caminho da volta furtando os segundos, os minutos seguintes. O silêncio sobre o asfalto descoloriu o tom e sem poder dizer o bom que foi, fez mais um poema que dentro dele pousou sentindo constrangimento, se escondendo cabisbaixo, mas loucamente ansioso para se revelar e tornar-se saudade com gosto doce de uma aurora que devora nuvens brancas aonde habitam todos os anjos.  Toda reviravolta em seu pensamento removia os manhosos moinhos que insistentemente trituravam-no reduzindo e fazendo dele pequeninos grãos de letras, partículas frágeis e solúveis, prestes a desaparecer em qualquer copo de café forte ou de uma bebida agridoce.
O beijo dela ainda o despertava condensando-o por horas e horas. Aquele momento poderia voltar, era sem duvidas seu desejo, um belo retorno com augusta sensação agradabilíssima quão canto dum querubim ou poema dum poeta romancista do século XVIII.
Singeleza de uma mademoiselle de Vila Rica com seus atributos encantadores faz dele um contemplador, um galanteador a fim de conquistá-la, trazê-la definitivamente aos seus braços, conduzi-la quiçá a uma dança lenta, ou porventura, a uma valsa vienense. Seria um só corpo envolvido e conduzido pela harmonia da bela musica com seus tons suaves. Tonalidades que provocariam efervescência aos corpos entregues a um delírio comovido.
Todos seus desejos são esculpidos, talhados por ela, por aquele par de olhos semelhante pedras preciosas tal qual aquelas cobiçadas pelos navegadores de barbas longas do além-mar.
Ela torna-se obra-prima diante dele e de seus fiéis pincéis em punho permitindo-o realizar sonhos representados confortavelmente em suas telas. Tintas modelando aquele rosto de menina mulher que quando os olhos se fecham consegue tocá-la, sentindo toda a quentura de corpo e alma.Uma historinha romântica construída por ele, e se o perguntassem quem seria ela, logo responderia com imponente voz:

_ Minha mais bela poesia!

Ele se faz sempre acompanhado de alguns livros, literaturas, todo seu dialetismo, pensamento metafísico que o permeia, permeia seu ser, imaginário mundo de sereias com asas de butterfly, palavras que dialogam entre si, sua Deusa utopia progenitora de suas ideias, mesmo as mais absurdas das ideias. Permite esferas flutuarem pelo deserto donde não habitam camelos, nem dromedários. Um amarelo submarino e ela, a mademoiselle de Vila Rica, com sua vermelha flor desabrochada em seus longos cabelos de ouro. Uma rosa que ele ainda tece para ela, e suas mãos sujas de tintas na dança louca dos seus fiéis pincéis, enquanto do lado de fora o tempo move, remove secas folhas dispersas e adormecidas pelo chão corrompido pela sujeira cansada, velha e translúcida.

Didiu 2013
 2013



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