domingo, 28 de julho de 2013

Bia e Antônio (tão perto, tão longe)



  
Antônio ainda guarda aquela poesia que escrevera para Bia em julho de 1991, ele a esconde no bolso esquerdo de seu inseparável paletó cor de terra siena queimada, que nas noites frias de inverno proporciona- lhe aquecida companhia. Ele que foi sempre tão inconstante, fingiu uma vida inteira... fugiu, se refugiou... e depois de tantos vários naufrágios... fingiu novamente.
Longe de Bia, Antônio caminha... recorre a cidade com seus novos e velhos apressados automóveis, homens e mulheres com rostos de Minotauros, velhas e novas histórias, músicas, bares... versos e adversos, ele alonga o seu pensamento e o introduz nas bocas de lobo pelas ruas ilustradas, prontas para saltarem famintas sobre algumas cabeças tontas, cegas e displicentes. Neste cenário, dragões quixotescos sobrevoam os céus de Antônio, induzindo danças de performáticos redemoinhos, nuvens atabalhoadas se divertindo numa ciranda mítica, sonhos sendo paridos para enfim tornarem-se rascunhos para uma precoce versão de uma realidade ainda não experimentada. Olhares modelando palavras desenvoltas, desassossegadas, são cúmplices, são casas desbotadas, cascas de paredes envelhecidas pelo tempo lento ameno de Antônio, que sente saudades de bia.

   
Os olhos de Bia sempre impressionaram Antônio. Talvez fosse pela luz mágica que sempre lhe provocou uma inexplicável vontade de tocá-los com as mãos da alma.

Longe de Antônio,
Bia escreve poesias.

Didiu 2013