"A vida é feita de encontros apesar de tantos desencontros."
O homem deixa sua marca no tempo e no espaço,ele idealiza, realiza, deixa seu legado. O homem tem o poder da escrita, o poder do discurso, tanto para o bem quão para o mal. O homem é ser dialético. O pensamento é dialético! O homem é o encontro em-si, para-si, para-outrem.
Aventuras, travessuras,
revistinhas com seus quadrinhos coloridos pelos sonhos com suas asas abertas e
a liberdade no seu tempo das descobertas, imaginando cenários inventados
Mareando sem ter mar com
seu barco de papel, põe-se a tagarelar ziguezagueando feito vagalume e mosquito
maribondo como num conto de cordel.
Corre, corre Gabriel
Corre, corre pelos montes,
pelo lúdico...pelas trilhas das alegorias
Corre pelo mundo vasto
mundo sem ter pressa de chegar
Corre a fim de aprontar...
nos presentear com a beleza da gargalhada e pular feito pipoca de pipoqueiro na
porta do cinema – Saltimbanco Trapalhão
Fiz um poema pra ela sentir-se pétala da flor do poeta
Desabrochar no canto da brisa, perfeita
No tinto vinho de Baco, suave
Fiz mais um poema pra revirar poesia
Bendizer sonetos
Conduzir tercetos
Espalhar aromas
Exalar perfumes e tons
Palavras desassossegar
Fiz assim do jeito que faço
Feito bem feito, cadenciado, devagar
Revelando segredos nas linhas, nas curvas das retas, nas
entrelinhas
Poema ou poesia, tanto faz
Fiz mais um poema
No conto, no encontro
Que conto na fabula pra virar poesia
No meio da noite, no meio do dia
E ela me pediu pra fazê-lo assim
Rimando, tecendo, entrelaçando rimas
Fim.
Bia leu vagarosamente o
poema, deliciando-se a cada verso com pequenas lágrimas nos olhos que escorriam
caindo sobre aquelas poéticas palavras escritas, fazendo daquele papel, palco
para uma borrada aquarela preto e branco. Antonio havia cumprido com a sua promessa
atendendo carinhosamente ao pedido de Bia, aquela carta continha a primeira
poesia que ele escrevera a ela nos seus primeiros diasem Marselha, na França.
Momentos depois, Bia recolheu delicadamente seu tão esperado
e significativo presente. O colocou de volta dentro do envelope azul, caminhou até
o quarto. Em sua vitrola um Serge Gainsbourg, faria boa companhia naquele momento, então apagou a luz deixando acesa apenas a
do abajur que ficava ao lado da sua cama, deitou-se fechando os olhos e abrindo
levemente um confortável sorriso. Bia adormeceu para atrever-se em seus sonhos.
Didiu 2014 . * Música incidental - “Je t'aime moi non plus” - Serge Gainsbourg
Repetiu o mesmo gesto de sempre, cumprimentou a vida ouvindo mais
uma vez aquela suave voz que sempre lhe sussurrou baixinho ao ouvido,
repousando no pouso. Pausadamente de um jeito diferente, Antônio anotou um
verso no verso dum rascunho cosido por ele mesmo momentos antes de Bia
despedir-se dele, deixando uma rosa branca ao seu lado sobre a cama ainda
aquecida pelo calor dos afagos e vestígios de seus corpos sedentos. 07:00 da
manhã daquela segunda feira preguiçosa marcava o radio relógio que ficava na
estante junto com seus queridíssimos e inseparáveis amigos livros. Meia hora
depois ele despertaria para que seus olhos enfim abrissem definitivamente para
o dia, para a vida, para sua inesperada viagem.
Enquanto isso, a duas quadras dali, Bia num ponto de taxi
esperava ansiosamente por um taxi que a levasse de volta aos seus sonhos, suas
utopias, fantasias... para junto de seus confortáveis travesseiros que tanto lhe
faziam companhia nos dias nublados sem Antônio
Naquele dia, Antônio partiria para Paris, ficaria por lá alguns
meses.
Antônio gostava de François Truffault e Brigitte Bardot
Bia lia Clarice Lispector e Rubens Fonseca
Algumas horas depois, já em casa, Bia liga para Antônio
Antônio
_ Alô!
Bia
_ Antônio!
Antônio
_ Bia!!!
Estava pensando em você aqui, saiba que estarei levando comigo a
nossa música e a rosa branca que você me deixou. Já sinto saudades...
Bia
_Estou ligando pra lhe
dizer o quanto gosto de você, e lhe desejar uma tranquila viagem. Você estará
aqui comigo todos estes meses que nos separarão, apesar da distancia estaremos
sempre juntos
Para trás ficaram as paginas, os pontos... as reticências
Vieram novas e renovadas vontades, poesias; algumas delas
em retalhos para enfeitar molduras de papel machê que está por vir, poesias
para veludo cotelê
O frio esquenta-me. Minha quentura gélida. Agasalhos... cachecóis.
Ornamentos, estética para meu corpo febril.
Em meu leito palavras brotam, afloram fazendo-me enfim
transbordar. Derramo-me pelo chão, me estico sorrateiro na direção contraria da
minha adorável lucidez previa. Por mais que pressuponho ideias, nunca me concedo
a elas.
É no conforto efêmero da minha debilitação provisória que
me arranjo pelo desarranjo de quaisquer que sejam as circunstancias.