Antônio
ainda guarda aquela poesia que escrevera para Bia em julho de 1991, ele a
esconde no bolso esquerdo de seu inseparável paletó cor de terra siena queimada,
que nas noites frias de inverno proporciona- lhe aquecida companhia. Ele que
foi sempre tão inconstante, fingiu uma vida inteira... fugiu, se refugiou... e
depois de tantos vários naufrágios... fingiu novamente.
Longe
de Bia, Antônio caminha... recorre a cidade com seus novos e velhos apressados automóveis,
homens e mulheres com rostos de Minotauros, velhas e novas histórias, músicas,
bares... versos e adversos, ele alonga o seu pensamento e o introduz nas bocas
de lobo pelas ruas ilustradas, prontas para saltarem famintas sobre algumas
cabeças tontas, cegas e displicentes. Neste cenário, dragões quixotescos
sobrevoam os céus de Antônio, induzindo danças de performáticos redemoinhos,
nuvens atabalhoadas se divertindo numa ciranda mítica, sonhos sendo paridos para
enfim tornarem-se rascunhos para uma precoce versão de uma realidade ainda não
experimentada. Olhares modelando palavras desenvoltas, desassossegadas, são cúmplices,
são casas desbotadas, cascas de paredes envelhecidas pelo tempo lento ameno de Antônio,
que sente saudades de bia.
Os
olhos de Bia sempre impressionaram Antônio. Talvez fosse pela luz mágica que sempre
lhe provocou uma inexplicável vontade de tocá-los com as mãos da alma.
Longe
de Antônio,
Bia escreve poesias.
Didiu
2013