O Tempo e o vento transitavam sem muita pressa,
desencadeando lembranças, vozes internalizadas ocultas nas paredes, nas paginas
dum prefácio de mais um livro de contos. Um tímido sorriso alongava-se toda vez
que o olhar de Bia recorria às imagens de seu pensamento cor de laranja pera que se misturavam com o
clarão dos seus pequeninos e grandes olhos arregalados, denunciando sua terna
saudade que lhe fazia suspirar compassadamente.
Mergulhada num vazio que lhe fazia companhia pela cidade,
observava carros, pessoas, transeuntes. Bia passava seu tempo catando frases
distraídas de outrem. Já havia quase duas semanas que Antônio não fazia mais
parte de sua saborosa rotina do dia a dia: cinema, poemas, discos e tintas. Um
quadro de Antônio ainda por terminar num canto do seu quarto parecia lhe falar
aos ouvidos, cochichando juras e versos.
Bia sorria, declamava,amava... sentia-se
bem com suas intimas confissões . Sua nova rotina lhe proporcionava momentos
extremamente peculiares. O tempo girava e os ventos sopravam de alguma forma
sempre a seu favor, apesar das súbitas às derivas. Ideias à vela lhe conduziam
descortinando seus sonhos, seus questionamentos.
E Antônio sonhava vendo amanheceres
brancos desejando as cores e os olhos de Bia.
Didiu 2014